Hoje venho contar-vos uma história que gostava de partilhar convosco.
Como sabem, eu sou licenciada em design de moda, tenho uma marca de vestuário, sou presidente de uma associação de jovens e ainda tenho uma participação como vogal na direcção de uma federação do distrito de santarém.
Para além disso, escrevo sobre moda de jovens criadores e novas marcas para o Grupo Femenino Movimento Lírio Azul, estou a terminar um curso de inglês avançado e de negócios no Wall Street English para receber um certificado e sou voluntária na Make-a-Wish.
Tenho uma vida muito preenchida, isso é certo.
Mas o dinheiro ainda escasseia e para ter uma marca de moda e ainda montar uma associação capaz de ajudar jovens que sofrem de bullying pelo nosso país é preciso muito investimento.
Mas eu não me assusto.
Tenho pedido muitas ajudas, mas estava na hora de acrescentar outro tipo de esforço para conseguir chegar aos meus objectivos.
Por isso, para ajudar nas despesas, decidi arranjar um emprego em part-time.
Escrevi um curriculum simples e honesto.
Contava que sou licenciada, que já fiz voluntariados, na sua maioria ligada a crianças e direitos humanos, que sabia falar inglês, que tinha uma associação de jovens e todas essas coisas.
Entreguei o curriculum em lojas de centros comerciais que estavam a pedir colaboradores.
Não obtive feedback de nenhuma loja, por isso decidi mudar o curriculum.
Acrescentei a disponibilidade para full-time.
Deixei ficar a licenciatura, os voluntariados e acrescentei uma pequena experiência como técnica de vendas que tive no verão passado num stand de centro comercial.
Nada.
Tirei a parte da licenciatura e deixei a experiência no stand e de voluntariados.
E fui finalmente chamada para uma entrevista para uma loja de animais.
Tive de mentir.
Tive de engolir tudo o que trabalhara até ali para conseguir um simples emprego numa loja de animais.
Mas não foi só.
Na entrevista tive de engolir sapos porque sabia que seria difícil de explicar ter 25 anos e ter um curriculum deprimente sem nada.
Quando o senhor perguntou "E experiências?" eu disse apenas a pequena experiência que tinha tido num stand de venda de cosméticos.
A reacção foi "Não trabalhou mais do que isso na sua vida toda?".
Comecei a ficar nervosa. Não podia descair-me. Podia ser a minha oportunidade de conseguir um emprego de salário fixo.
Mas surgiu o problema seguinte. Todos os meus horários eram controlados por mim menos a do inglês.
Então quando ele me fez a pergunta "Não trabalhou mais do que isso na sua vida toda?", eu tive de responder que estava a fazer um curso na Modatex e que apenas tinha de ter as tardes da terça livres.
Esta era uma forma de justificar a minha falta de experiência de trabalho. Os estudos. Desde que não fossem em universidades.
Triste.
Justifiquei assim uma suposta ocupação às terças à tarde, que na verdade eram ocupadas com o inglês.
Nesse mesmo dia recebi um telefonema a dizer que tinha sido aceite e para começar a trabalhar no dia seguinte às 9 horas da manhã.
O trabalho era pesado. Não vou negar.
Tínhamos de aprender sobre raças de cães e de gatos para aconselhar a melhor ração, os melhores cuidados e vender os animais disponíveis na loja.
Comprei livros para me ajudar nesta parte, fazia montes de perguntas e aprendi montes de coisas que não sabia.
Tínhamos de aprender o nome de todos os peixes, aves e roedores que se vendiam na loja. E saber todos os cuidados necessários a cada um deles.
Tínhamos de atender os clientes sempre com um sorriso.
Tínhamos de limpar a loja e boxs de animais com vassoura, esfregona, pano e um balde de água.
Hello? Ninguém ouviu falar de aspiradores?
Mesmo tendo problemas de coluna peguei em pesos como rações para cães.
Existem pacotes mesmo pesados!
Mesmo tendo vertigens subi escadotes para limpar as vitrines da loja de alto a baixo.
Tinha nódoas negras e dores pelo corpo.
Trabalhávamos sete horas com uma folga por semana e meia-hora de almoço.
Portanto saliento, era duro.
Mas eu gostava de trabalhar lá. Gostei de aprender sobre animais e de estar rodeada deles.
Sempre me senti bem perto deles. Em toda a minha vida.
Trabalhei quatro dias e no quinto dia folguei.
No sexto dia o meu horário começava às 16 horas.
Nessa manhã surgiram problemas relacionados com a associação e problemas burocráticos.
Banco, finanças, mudança de membros nos corpos sociais. Estava a ser uma manhã caótica.
Tive de ir ao banco fazer umas perguntas rápidas e eram 14 horas.
Apesar de não haver pessoas para a área das empresas eu tive de esperar uma eternidade para ver as minhas perguntas respondidas.
Tive de pedir à funcionária da entrada que me respondesse às perguntas.
Mas o problema com a associação ficara resolvido e respirei de alívio.
Depois disto, peguei no carro e cheguei ao centro comercial.
Ao subir as escadas rolantes olhei para o telemóvel: 16h07.
Bolas!
Nunca fui pessoa de me atrasar. Chegava sempre cedo e tinha sempre tudo controlado ao minuto.
Mas como é óbvio estas situações podem acontecer.
Cheguei à loja com um sorriso.
E antes de mais nada fui em direcção à salinha para mudar para a farda.
Estava lá o senhor que me tinha feito a entrevista. Um dos patrões.
"O que se passou?" perguntou ele.
Tentei explicar-lhe que tinha ido ao banco e que tinha demorado mais do que era suposto.
"Eu até já tinha o seu contrato. Mas não tolero atrasos."
Deu-me o dinheiro dos quatro dias de trabalho e mandou-me embora.
Ou seja, não me foi dado o contrato e nem a folga me pagou.
Ou seja, não me foi dado o contrato e nem a folga me pagou.
Mas ultrapassando algumas irregularidades típicas das lojas de centros comerciais, eu gostava de estar ali pelos motivos mencionados anteriormente.
Para mim, era importante que pudesse retirar deste meu pequeno sacrifício um lado prazeroso.
Fiquei chocada.
Não que precisasse do emprego para comer. Era apenas mais uma ajuda como forma de investimento.
Mas por duas outras razões.
A primeira porque sabia que ia ser uma situação difícil de gerir e mesmo assim avancei, esforcei-me e acabei por falhar.
Mas por duas outras razões.
A primeira porque sabia que ia ser uma situação difícil de gerir e mesmo assim avancei, esforcei-me e acabei por falhar.
E a segunda porque, apesar de já me ter deparado com muitas situações que explicam a situação deste país, esta foi uma das mais infelizes.
Este senhor em questão era um jovem de apenas 29 anos.
Muita coisa me passou pela cabeça.
"Este país não é para jovens".
Esta era uma frase que tinha ouvido vezes sem conta enquanto jovem no mundo associativo.
Aliás, ainda ouço.
Aliás, ainda ouço.
As pessoas querem que o Estado Português tome medidas em relação a este assunto.
Mas como diz a minha mãe "Não se começa uma casa pelo telhado".
Se um jovem de 29 anos, à frente de uma empresa, não teve uma atitude humana perante outro jovem de 25 anos, este não está a colaborar para um país melhor.
Eu tenho mais experiência em cargos de liderança. E lido com pessoas de várias idades.
E com todas elas, assumo que são humanas e podem cometer erros.
Os erros não devem comprometer a empresa. E por vezes são difíceis de compreender.
Mas erros todos cometemos. Funcionários e Líderes.
Mas essa é a diferença da qualidade na gestão de empresas.
Porque um líder deve ser, acima de tudo, humano.
Despeço-me assim, aconselhando todos os portugueses a darem o exemplo primeiro entre eles, e só depois esperar que os seus líderes o sigam com excelência.
- ABRAÇOS E SORRISOS DE UMA JOVEM PORTUGUESA -
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